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  • Foto do escritorSilvia [Adorno]. Bibliotecária. Literatura adorna a vida.

Em quem não vou votar


Prezado senhor em quem não vou votar,


Saiba, hoje, que o senhor não terá o meu voto.

O senhor traiu a mim e a muitos outros deste país tão gentil, negligenciando, postergando, atrasando o caminho da cura. Assisti seu desprezo, sua falta de empatia quando fez piada de meus irmãos que asfixiados estavam.

O senhor preferiu facilitar o mercado de armas preterindo o de livros.

O senhor semeou a divisão e não se opôs, não dirigiu uma só palavra aos seus liderados que agiram e continuam agindo com intolerância numa pauta de ódio.


Seus apoiadores ofenderam, desrespeitaram autoridades da Igreja Católica e até mesmo o nosso Papa. Alguns Pastores, alinhados com a sua candidatura, hostilizaram e segregaram irmãos evangélicos, simplesmente porque discordavam de suas opiniões. Seguiram na direção contrária de Cristo que dialogava com todos, inclusive revelando-se, publicamente, a uma samaritana e o senhor que repetidas vezes diz: "Deus acima de todos" não dirigiu a eles sequer uma frase que os inspirasse a realmente colocar Deus acima de todos. Todos não incluí o senhor?


Numa Igreja Católica, no interior de São Paulo, uma senhora interrompeu o momento da homilia aos gritos e questiona o sacerdote, indignada, porque ele, ao aconselhar os fiéis em relação aos perigos da intolerância citou o nome de Marielle Franco. Esta irmã ficou indignada pela falecida vereadora ter o nome mencionado e ser homossexual, mas não pelo fato de ter a vida ceifada pela intolerância! Não considero que o senhor tenha culpa direta por esses acontecimentos, mas, indiretamente sim. Suas falas são sempre agressivas e o senhor é um líder, inspira comportamentos assim.


Sem desejar me estender no campo jurídico, no qual não sou habilitada, em relação ao seu opositor que tem fama de ladrão e passou 580 dias prezo, tenho uma observação a fazer: ele não agrediu ou insuflou seus apoiadores a desrespeitar representantes do poder judiciário. Como diz o ditado popular, não coloco minhas mãos no fogo por ele, mas, no que dependeu dele a harmonia entre os poderes foi mantida.


Não o odeio, o senhor é meu irmão também. Desejo que Deus o perdoe, tenho orado pelo senhor e pelo seu opositor para que seja perdoado também. "Pense que, ao pender na cruz, o Senhor Jesus também levou consigo os pecados que você cometeu. Se admitir isso e desejar tornar-se filho de Deus, você será salvo por toda a eternidade." Corrie ten Boom, Cartas da prisão, p. 81.


Despeço-me informando que pela democracia, pela harmonia entre os poderes, em memória aos quase 700 mil brasileiros que perderam a vida para a COVID19, em respeito a dor de seus familiares o senhor não terá o meu voto.


Atenciosamente,

Silvia Gonçalves


 

Referências:


É perigoso usar religião como instrumento de poder, alerta dom Odilo Scherer


Mulher grita com padre após ele citar Marielle durante missa em SP.


Quem foi Corrie ten Boom (1892-1983)

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