Separa-se tudo o que for preciso, mistura-se aos poucos: Junta-se alguns primeiro e depois vai se acrescentando os demais.
Em instante os olhos são presenteados com uma textura lisa e homogênea, formam-se veios e bolhas. A cor depende do que se escolheu para compor o resultado que se espera.
Neste procedimento repetido por anos e anos, podem-se se juntar mais de uma pessoa. Duas mulheres, uma ensina outra aprende. As duas em pé, uma sobre uma cadeira. Elas estão juntas, a massa é apenas mais uma oportunidade de trocarem olhares, risadas, conversas corriqueiras ou de muita importância. Elas estão juntas, a massa é só um pretexto.
Que pretexto lindo! Ao observar a transformação dos ingredientes em massa, outros sentidos são despertados:
o olfato da mistura, mas, também da proximidade que permite o apreciar do cheiro da pele e dos cabelos de quem lhe alimentou desde antes do nascimento;
o sabor daquela última prova antes da bronca e o sabor de aprender com quem lhe inspira só com o olhar;
a sensação de receber o ingrediente que não estava na receita, mas que foi usado em abundância e sem moderação: O carinho entre elas, a que ensina e a que aprende.
A vida segue e tantos são os pretextos para que ambas ensinem e aprendam. O ingrediente que se repete sempre é o mesmo: o carinho.
A textura de tantos veios e pequenas bolhas já não pode mais esperar, precisa seguir seu caminho, não pode permanecer para sempre sendo apreciada, precisa crescer e seguir seu destino. O destino é alimentar e viver para sempre na vida dos que a saboreiam.
O ingrediente que jamais pode faltar é o carinho.
Este texto faz parte da minha participação na Caça ao tesouro, PalavraAsa